25 fevereiro 2006

237) Manifesto pela decadência universitária...

Não, não estou pedindo a ninguém que assine qualquer manifesto em favor da decadência universitária.
Estou, simplesmente, declarando meu desejo pessoal de que a decadência da universidade pública,livre e gratuita, seja acelerada e tornada irreversível, de maneira a que possamos chegar, o quanto antes, a uma situação de falência absoluta, de modo a permitir, finalmente, a sua recuperação em novas bases.

Mil desculpas pela ironia involuntária, mas é que não resisti a esse sentimento "declinista" quando li a entrevista abaixo do Professor Fernando José Almeida, do Departamento de Educação da PUC-SP, no jornal O Estado de São Paulo, do dia 24 de fevereiro de 2006.
O que ele diz em sua essência?
Que a própria PUC, a quem foi garantida autonomia durante 3o anos, não conseguiu administrar-se sozinha. Sindicatos, interesses pessoais ou simples preguiça uniram-se para inviabilizar uma administração minimamente responsável. Em conseqüência, as dívidas se acumularam até o ponto de precipitar a PUC-SP em crise irreversível, fazendo-a enfrentar um déficit mensal de 4 milhões e uma dívida total de mais de 80 milhões, até aqui colocada junto a bancos complacentes.
Esses são os ensinamentos da crise da PUC, e eles estão absolutamente transparentes na entrevista abaixo do professor em questão. Ainda que outros possam protestar, não há como não enfrentar a realidade.

Pois bem: mutatis mutandis, é exatamente o que acontece hoje com a famosa universidade pública e gratuita: ela está em decadência completa e absoluta, só que as pessoas não estão se apercebendo disso, porque ela passa a conta do seu déficit contínuo para toda a sociedade brasileira, via interesses corporativos representados no MEC e no governo.
Os mesmos males apontados pelo professor da PUC-SP ocorrem desde muito tempo na universidade pública e ninguém quer enfrentar o monstro: os professores e reitores apenas pedem mais dinheiro ao MEC, e à sociedade, ao mesmo tempo em que dizem pretender obter a famosa "autonomia universitária".
É mentira!
Os defensores da universidade pública (e gratuita, não esqueçamos!) desejam na verdade a falta de autonomia. Eles desejam viver dependentes da sociedade, e querem, posto claramente, que uma "tia rica" (no caso, o Estado, ou a sociedade, o que revem ao mesmo) lhes pague indefinidamente os gastos do carão de crédito...
É isso, basicamente, o que desejam os universitários do setor público.
Como eles não desejam se reformar a si mesmos, como está devendo fazer dolorosamente a PUC-SP, como eles não asssumem nenhuma responsabilidade por sua tão famosa (e falsa) autonomia, a única solução para o problema é esse que eu apontei:

A rápida e inevitável decadência!

A universidade pública precisa decair rapidamente para que ela possa, finalmente, se salvar a si mesma, com total autonomia, inclusive para corrigir certos mitos e mentiras que cercam seu funcionamento.

Voltarei oportunamente a este assunto: por enquanto deixo vocês com a leitura desta entrevista elucidativa...


"CRISE DA PUC-SP
O Estado de São Paulo, sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006, p. A19
Entrevista: Com a intervenção, a Igreja fez o que a PUC-SP não faria sozinha

'Dizer que a Igreja está interferindo é esquecer o problema principal. Por acaso ela está propondo doutrinação católica?'
Fernando José Almeida Professor do Departamento de Educação da PUC-SP

Ricardo Westin (OESP)

O professor Fernando José Almeida, do Departamento de Educação da PUC-SP, diz que as demissões de professores impostas pela Arquidiocese de São Paulo foram necessárias e legítimas. "Não conseguimos administrar a folha de pagamento. A democracia está, sim, abalada, mas porque não conseguimos fazer aquilo que nos competia", diz ele, que foi secretário municipal de Educação em São Paulo em 2001 e 2002 e vice-reitor entre 1993 e 1996.

O que o sr. pensa das demissões?
A PUC retardou muito essa reestruturação. O sangramento já tem tempo, por causa do acúmulo de dívidas, do reajuste de 5% que os professores têm a cada cinco anos e do inchaço dos benefícios, como bolsas de estudo para todos os contraparentes dos professores e funcionários. Muitos professores dão três ou quatro horas de aula, mas recebem como se continuassem na universidade mais seis ou sete horas. Quando fui vice-reitor acadêmico, propus remunerações diferenciadas. Ninguém aceitou. A equação foi perversa para a instituição.

Os cortes foram necessários?
Sim. E só não foram feitos antes porque a PUC não teve coragem de encarar a realidade. Todas as propostas foram mortas no berço. O sindicalismo não permitiu. Ninguém quis abrir mão do conforto. A instituição entrou em colapso. Mas, apesar de o enxugamento ter sido justo, algumas injustiças foram feitas, com a demissão de professores essenciais para a universidade.

A intervenção foi legítima?
Não podemos debater isso enquanto não fizermos a nossa lição de casa. É fato que muito mais dinheiro saiu do que entrou. Além disso, a Igreja tem direito. A universidade é pontifícia e católica. D. Paulo Evaristo Arns nos deu 30 anos para que fizéssemos a equação da nossa democracia. Não conseguimos administrar a folha de pagamento, os contratos, os aumentos, os empréstimos. Dizer que a Igreja está interferindo é esquecer o problema principal. Por acaso ela está propondo doutrinação católica, crucifixos nas salas de aula? Não está. A democracia está, sim, abalada, mas porque não conseguimos fazer aquilo que nos competia."

Nota final PRA:
Voilà: a universidade pública tampouco consegue fazer o que lhe compete. Por isso, a única solução é a decadência e a crise irreversível. Depois, se eles conseguirem administrar a sua recuperação (sem mais dinheiro da "tia rica") em total autonomia, melhor, do contrário, também merecem intervenção humilhante...

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Paulo do céu! Comece a trajar, quando sair à rua, colete a prova de balas! Eu, que estudo numa universidade pública, sei com muita clareza, pois que vejo com estes dois olhos, como os alunos se mobilizam arduamente (ou são manipulados, melhor dizendo) em defesa da universidade pública (e gratuita!). Em todo início de ano, sem exceção, quando os "bixos" ingressam na faculdade, logo são bombardeados, inculcados, pelas pregações de professores e veteranos no sentido de que a universidade pública precisa ser defendida a todo custo, geralmente contra a fome temerosa do capital, das privatizações, e, não duvide, até do "império norte-americano". Eu, entretanto, quando aqui ingressei, já de imediato notei tratar-se de uma verdadeira lavagem cerebral, contra a qual já logo criei anticorpos. Se eu escrever aqui que concordo com e endosso tudo o que você escreveu aí, precisarei, como você, passar a me proteger dos terroristas da universidade pública e gratuita, então não pronuncio uma só palavra em seu favor.

sábado, fevereiro 25, 2006 6:54:00 PM  

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