30 janeiro 2006

196) Contrastes e confrontos: FSM de Caracas versus India


Apenas recolhendo da imprensa diária, reflexos constrastantes sobre o Fórum Social Mundial de Caracas e seu irmão mais velho, capitalista, de Davos, o Fórum Econômico Mundial.

Primeiro, algumas impressões do FSM de Caracas:

"Presidente venezuelano quer bloco antiimperialista
(O GLobo, 29 de janeiro de 2006)
CARACAS. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, alinhou-se a uma parte da cúpula do Fórum Social Mundial (FSM) para formar uma espécie de nova Internacional. Interlocutores de diversos governos de esquerda, incluindo Brasil, Cuba, Uruguai e Bolívia, consideraram a idéia viável, desde que mantida a independência dos governos e das organizações sociais que formam o FSM.

O GLOBO apurou junto aos articuladores que o movimento prevê o financiamento parcial e a ajuda dos governos em sua estrutura. O alvo é “o império de Mr. Danger (George W. Bush)”, segundo Chávez. Outra proposta é a incorporação dos fóruns paralelos, como o de Autoridades Locais, ao FSM, aumentando a participação dos políticos de esquerda.

A proposta — fruto de uma articulação de intelectuais e dirigentes de ONGs — foi anunciada por Chávez em discurso na noite de sexta-feira, para uma platéia de cerca de dez mil pessoas, com direito ao hino da Internacional Socialista (que prevê “uma terra sem amos”).

— Não podemos permitir que o Fórum se converta em um encontro turístico e folclórico — disse Chávez. — Clamo ao FSM a construção de um grande movimento mundial antiimperialista, um movimento autenticamente socialista.

Chávez também afirmou que o governo americano não vê com bons olhos o projeto do gasoduto na América do Sul:

— Já falam do grupo “Chakal”, de Chávez, Kirchner e Lula, que está construindo um gasoduto. Está aí o desespero fundamental de Mr. Danger, que quer nosso petróleo."


Desorganizado, Fórum Social termina sem Chávez
(Agencia Estado, 29 janeiro 2006 - 22:07)
Caracas - O VI Fórum Social Mundial (FSM) terminou neste domingo em Caracas sem discurso do presidente venezuelano, Hugo Chávez, que estava no programa. O caos que caracterizou a organização do Fórum Social Mundial também chegou ao último dia, com todos esperando a presença de Chávez, que na sexta-feira passada proclamou "socialismo ou morte" em um discurso no encontro, diante de 15.000 pessoas.

"O Fórum Social não é isto".
A falta de organização no dia do encerramento foi parecida com o que caracterizou os seis dias anteriores em que o FSM se reuniu em Caracas. Ao longo do encontro, foram várias as conferências suspensas ou que aconteceram em lugar diferente do anunciado. Em frente ao Hotel Caracas Hilton, coração do Fórum Social, o brasileiro Oded Grajew, um dos fundadores do movimento, explicou claramente aos jornalistas: "O Fórum Social não é isto".

À margem do caos na organização, os movimentos sociais do Fórum concluíram neste Domingo suas deliberações e emitiram um documento no qual consta seu "calendário de protestos" para este ano. As primeiras grandes manifestações foram anunciadas para 18 de março, data para a qual se convocou todos os ativistas para uma "jornada de mobilização internacional contra a ocupação do Iraque". Também em relação à guerra no Iraque, os ativistas foram chamados a participar de uma conferência contra a hegemonia dos Estados Unidos e a ocupação que será realizada no Cairo de 24 a 27 de março.
Além disso, houve o pedido para o movimento contra a globalização ficar "alerta" diante do desenvolvimento das negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) e convocou para o protesto em reunião que esse órgão realizará em maio, em Genebra. A seguinte reunião dos críticos à globalização será em julho, na cidade russa de São Petersburgo, durante uma reunião do Grupo dos Oito (G8). O último protesto antiglobalização do ano foi anunciado para setembro e será contra o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM)."

Agora, trechos de uma entrevista com o ministro da economia da India, presente no FEM de Davos, no mesmo jornal O Globo, do domingo 20.01.06:

Índia: sucesso vem de reformas e educação

DAVOS (Suíça). Palaniapan Chidambaram, o ministro da Economia da Índia, rejeita as comparações entre as altas taxas de crescimento de seu país — para este ano, a previsão é de 7,5% a 8% — e o avanço estimado para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, de 3% a 4%. Em entrevista ao GLOBO, ele disse que o Brasil está indo “razoavelmente bem”, mas que a chave do sucesso da Índia é clara: manteve-se no curso das reformas e investiu mais em educação.

Em 1991, a Índia estava à beira da bancarrota. Hoje o país está crescendo mais de 7%. O que vocês fizeram que o Brasil não fez?
PALANIAPAN CHIDAMBARAM: O Brasil está indo razoavelmente bem. Não vejo razão para que vocês fiquem na defensiva. Na Índia houve uma mudança de governo, mas continuamos no caminho (de reformas).

Qual é o curso das reformas?
CHIDAMBARAM: Liberalização, desregulamentação, globalização, modernização. Chegamos a um equilíbrio entre o papel do Estado e o do setor privado. E soltamos a energia criativa dos jovens, que é a nossa grande força: recursos humanos. Fizemos reformas institucionais nos setores de bancos, seguros, mercado de capitais. Mantivemo-nos no curso e continuamos com as reformas.

Seu primeiro-ministro defendeu o que se chamou de economia mista (o Estado tem papel importante). A Índia criou um modelo?
CHIDAMBARAM: Eu colocaria da seguinte forma: criação empreendedora de riqueza. Fazer negócios é para empresários, mas o governo tem um papel ao intervir em educação, saúde, infra-estrutura e saneamento. O governo precisa ganhar muito dinheiro para fornecer estes serviços. Em manufaturados, comércio, isso tem que ser feito pelo setor privado. Acho que temos um modelo em que redefinimos o papel do governo e aumentamos o do setor privado.
(...)
A Índia tem grandes problemas sociais, mas conseguiu criar uma elite altamente educada. É a saída?
CHIDAMBARAM: Educação é chave para o desenvolvimento de qualquer país. Criamos uma elite altamente educada, mas temos muito o que fazer para assegurar que cada criança chegue à escola. (D.B.)"

Cada um que tire suas conclusões...