190) Dicionário Político dos Novos Pecados Capitais
Como todos sabem, os sete pecados capitais da tradição cristã são, sem ordem particular de prioridade, os seguintes:
1) inveja
2) avareza
3) cobiça
4) orgulho (ou soberba)
5) preguiça
6) luxúria e
7) gula
Sobre eles não precisamos nos alongar indevidamente, tendo em vista toda a exegese já registrada na história, a começar por São Tomás de Aquino até exemplos mais recentes na literatura. Pode-se questionar, inclusive se esses “pecados” continuam sendo “capitais” ou se a sua presença na vida diária já não vem sendo admitida com alguma tolerância pelos mais diversos personagens da vida pública. Afinal de contas, todos eles, com alguma discrição para a luxúria, vêm sendo exibidos por esses personagens, até mesmo com certa desfaçatez, sem que autoridades morais ou religiosas venham a público condenar atos e atores com a veemência que seria de se esperar.
Deixando de lado esses pecados da velha tradição, proponho-me agora listar alguns novos pecados da moderna vida política, da brasileira em particular. Os políticos, em geral, exibem uma penca deles, não todos os políticos, em bloco, nem todos os pecados, ao mesmo tempo, mas vários desses personagens da vida pública ostentam alguns de forma cumulativa e, o que é pior, de maneira reincidente.
Não vou deter-me agora sobre casos concretos da vida pública brasileira, tanto porque eles estão sendo expostos de maneira recorrente, nas comissões parlamentares de investigação e nas páginas da imprensa e em outros meios de comunicação.
Parafraseando uma frase famosa, pode-se dizer que nunca, tantos podres da vida pública foram assumidos de forma tão aberta, para o conhecimento de tantos cidadãos, estupefatos. Assistimos, desde vários meses, a uma enxurrada de denúncias, várias delas já substanciadas por provas contundentes, sem que se tenha visto, até aqui, nenhuma condenação moral, ou qualquer condenação de fato. Resta saber se velhos e novos pecados serão, de alguma forma, julgados e condenados no futuro previsível.
Esperando que chegue o “dia do julgamento final”, proponho-me, assim, a apresentar alguns novos pecados da vida política brasileira que, numa lista não exaustiva, poderiam ser identificados com os seguintes:
1) corrupção
2) hipocrisia
3) fraude
4) desfaçatez
5) volubilidade
6) inconstância
7) mentira
8) mediocridade
9) transferência de encargos para terceiros
10) ignorância deliberada de fatos de sua competência
11) irresponsabilidade quanto ao desempenho de funções
12) pretensão
13) eleitoralismo desenfreado
14) propaganda indireta, com meios públicos
15) uso da máquina estatal para fins particulares
16) populismo (velho e novo)
17) demagogia (aparentemente, uma segunda natureza)
18) arrogância
19) clientelismo
20) fisiologia
21) nepotismo
22) fuga da realidade (autismo político)
23) esquizofrenia (defesa de objetivos conflitantes na vida política)
24) ofensa à inteligência alheia (“eu não sei”, “eu não vi”, “não estou sabendo”...)
Paro provisoriamente por aqui, e não pretendo, no momento, elaborar sobre cada um desses novos pecados, esperando ao menos que eles sejam auto-explicativos. Os fatos que poderiam substanciar cada um desses verbetes do novo dicionário de costumes políticos da vida brasileira são conhecidos de todos e não requerem nova descrição.
Termino parafraseando Dante Alighieri (1265-1321), o poeta italiano autor de “A divina comédia”, que numa de suas frases memoráveis disse o seguinte: “Não menos do que saber, me agrada duvidar.”
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 26 de janeiro de 2006
1 Comments:
A Imprensa está noticiando que o Vaticano criou “novos pecados capitais”. Não é bem assim; é incrível a capacidade desta de fazer barulho, especialmente com relação à Igreja Católica. O que aconteceu?
Na semana de 10 a 15 de março, realizou-se no Vaticano um curso de atualização para sacerdotes sobre o Sacramento da Confissão, patrocinado pela Penitenciária Apostólica do Vaticano. Em entrevista ao jornal do Vaticano "L´Osservatore Romano", o responsável pelo Tribunal da Penitenciária Apostólica, monsenhor Gianfranco Girotti, abordou outros pecados do mundo moderno, no contexto da globalização: manipulação genética, o uso de drogas, a desigualdade social, a poluição ambiental, pedofilia, entre outros. Em nenhum momento, ele falou em "Pecados Capitais! Quem fez essa referência foi a Imprensa por sua conta.
A Igreja, com sua experiência de dois milênios, nos ensina que os piores pecados são aqueles que ela chama de "capitais". Capital vem do latim "caput", que quer dizer "cabeça". São pecados "cabeças", isto é, que geram muitos outros. Assim como, por exemplo, a capital de um estado ou de um país, de onde procedem as ordens, as decisões e comandos. Da mesma forma, desses pecados “cabeças” nascem muitos outros. Por isso, eles sempre mereceram, por parte da Igreja, uma atenção especial. São sete: soberba, ganância, luxúria (impureza), gula, ira, inveja e preguiça.
Podemos ver, por exemplo, como filhos da soberba: o orgulho, a vaidade, a arrogância, a prepotência, a auto-suficiência, a jactância, entre outros. Podemos ver como filhos da ganância: a exploração da pessoa humana, a destruição do meio ambiente como fonte de enriquecimento, as brigas pelos bens materiais, entre outros. Entre outras afirmações, monsenhor Gianfranco Girotti destacou os pecados relacionados aos direitos individuais e sociais, os da área bioética, nos quais há violações de direitos fundamentais da natureza humana (aborto, eutanásia, inseminação artificial; uso de células-tronco embrionárias, clonagem humana, etc.). "Através de experiências e manipulações genéticas, cujos êxitos são difíceis de prever e manter sob controle" declara. Ressaltou também a gravidade da desigualdade social, na qual "os ricos se tornam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres", alimentando uma insuportável injustiça social. E falou ainda da ecologia.
Na verdade, todos esses pecados cabem bem na lista antiga dos pecados capitais, pois eles podem ser desdobrados em muitos outros; inclusive nesses citados pelo monsenhor Gianfranco. Contudo, ele apenas desejou deixar mais explícito a gravidade deles.
O Vaticano está preocupado com o grande número de católicos que não se confessam. Ao menos uma vez a cada ano, o católico é obrigado a fazer uma confissão, segundo o Catecismo da Igreja Católica (Mandamentos da Igreja, §2042). O Sacramento da Confissão foi instituído por Jesus logo após a Ressurreição; Ele enviou os Apóstolos dizendo: "A quem vocês perdoarem os pecados, os pecados estarão perdoados; a quem vocês não perdoarem os pecados, os pecados não serão perdoados" (João 20, 22).
Postar um comentário
<< Home