10 março 2006

258) E como vai essa onda esquerdista na América Latina?

Para os que acreditam que a América Latina está navegando numa onda de esquerda, vale ler esta matéria sobre o novo ministro da economia do governo socialista do Chile, que toma posse amanha, sábado, dia 11 de março de 2006.
O novo ministro da economia, um acadêmico de Harvard, se classifica como "liberal liberal" e diz que pretende até mesmo, vejam que heresia, desestatizar, ou seja privatizar, a companhia nacional de cobre do Chile...
Seu único problema parece ser o fato de que ele é... um acadêmico.
Acadêmicos geralmente não dão certo na arena política, sobretudo num terreno minado como são todos os ministérios da economia.
Mas, como tudo nos surpreende no Chile, é até possível que dê certo...

Do jornal Valor Econômico, 10 de março de 2006
Um "liberal liberal" vai pilotar a economia chilena
Rodrigo Uchôa De São Paulo

A política econômica do governo Michelle Bachelet, que toma posse amanhã a Presidência do Chile, será encabeçada por um grupo novo na cena política do Chile, ironicamente chamados de "neoliberais de esquerda". Advindos de um think-tank liberal, o Corporación Expansiva, os ministros da Fazenda e de Obras Públicas, além da ministra da Defesa e vários subsecretários, formam a "onda Expansiva", que prega rigor fiscal e redução de desigualdades.

Andrés Velasco, 45, o novo ministro da Fazenda, é tido como um economista brilhante, com credenciais acadêmicas admiradas no país e no exterior, mas tem pouca experiência na cena política. Não se espera que mude drasticamente a atual política. Ele é de linha ortodoxa no trato fiscal, defende a livre flutuação do câmbio, mas não descarta intervenções pontuais. Prega investimentos maiores para a diminuição das desigualdades e para incentivar pesquisa e desenvolvimento na área industrial - uma das maiores fragilidades da indústria chilena.

Professor na Universidade Harvard, Velasco se classifica como um "liberal liberal". É favor do divórcio, do direito do aborto e da descriminalização de algumas drogas. Acima disso tudo, diz que o país tem "desigualdade demais".

Para deixar claro que é um liberal nato, defende até algo tido como improvável no país: a privatização da Codelco, mineradora estatal de cobre, principal produto da pauta de exportações chilena.

Velasco é um dos fundadores da Corporación Expansiva. O instituto, considerado no Chile como a nova escola de pensamento econômico do poder, tem suas peculiaridades, como a de ser exclusivamente virtual. Não tem telefone nem endereço. Seus membros se comunicam por e-mail e fazem discussões só pela internet.

Analistas chilenos dizem que ele é um teórico de primeira linha, especialista em modelos econômicos complexos. Crêem, porém, que terá de ser mais político para conseguir conjugar suas pretensões.

Tomas Flores, do think-tank conservador chileno Liberdade e Desenvolvimento, disse à agência "Dow Jones Newswire" que Velasco "vem de um mundo acadêmico e isso provavelmente gerará dificuldades para ele".

A única experiência do novo ministro na área pública foi a de coordenador de finanças internacionais do Ministério das Finanças durante o governo Patricio Aylwin, no início da década de 90.

Apesar de ser próximo do Partido Socialista, de Bachelet, Velasco não é filiado e é considerado politicamente independente. Para seu alívio, o governo da Concertación (coalizão entre socialistas, democratas-cristãos e partidos menores) terá a maior maioria parlamentar desde o fim da ditadura do general Pinochet.

Um dos primeiros problemas do ministro será o câmbio, já que o peso chileno se valorizou demais, segundo a avaliação da maioria dos economistas do país. Isso seria resultado direto da alta do cobre no mercado mundial, que elevou o ingresso de divisas, e estaria afetando outras áreas da economia.

Os artigos de Velasco mostram que ele considera as crises cambiais as principais fontes de riscos macroeconômicos na América Latina. Ele é a favor da flutuação do câmbio, mas disse numa entrevista recente: "Na América Latina, a política cambial é mais uma arte do que uma ciência. Os bancos centrais estão entre dois contrapostos: querem que o câmbio flutue, porque a flutuação é boa, mas não querem que seja excessiva. Como compatibilizar essas duas variáveis? Com uma política hábil de intervenções. Não intervir em quantidades pequenas regularmente, mas sim intervir em grandes quantidades esporadicamente."

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

É o que digo: cadê a "esquerda"?

sexta-feira, março 10, 2006 8:55:00 PM  

Postar um comentário

<< Home