21 março 2006

270 ) Interpretações da diplomacia do governo Lula

Apenas a transcrição de uma apresentação de suporte a uma aula no Instituto Rio Branco:

Interpretações sobre a diplomacia do Governo Lula
uma classificação tentativa com base na literatura disponível


Esquema da palestra
1. O universo sob exame
2. A base de dados do levantamento da produção bibliográfica
3. As categorias retidas para análise
4. Qual a produção representativa dos quatro grupos de interesse?
5. O que cada um dos grupos tem a dizer?
Referências bibliográficas

1. O universo sob exame...
objetivo deste ensaio analítico-bibliográfico:
fazer um primeiro levantamento da produção “acadêmico-jornalística” sobre a diplomacia do governo Lula, em seus primeiros três anos de prática efetiva, agrupando-a em função do posicionamento adotado pelos autores selecionados no levantamento.

...e qual é o posicionamento?
(a) “vozes autorizadas”: produtores originais de posições e discursos para a diplomacia;
(b) apoiadores externos: membros da academia que concordam com as grandes linhas do discurso e da prática diplomática;
(c) “acadêmicos neutros”: se dedicam ao registro de posições e à análise de suas implicações para as relações internacionais do Brasil;
(d) “opositores declarados”: simplesmente recusam e atacam fundamentos e posições da atual diplomacia

2. A base de dados do levantamento da produção
Critérios:
- presença “volumétrica” nos instrumentos de busca: Google e Google Scholar
- conhecimento pessoal da bibliografia relevante
Resultados:
Cerca de setenta títulos de artigos efetivamente registrados
Natureza:
ensaios de discussão da política externa do governo Lula, incluindo-se opiniões ou comentários com objetivos aproximados a uma análise acadêmica da diplomacia

3. As categorias retidas para análise
(a) As “vozes autorizadas”
(b) Os “simpatizantes benevolentes”
(c) Os “acadêmicos neutros”
(d) Os “opositores declarados”

(a) “Vozes autorizadas”
formuladores e executores da política externa governamental:
Presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva
Chanceler, embaixador Celso Luis Amorim
Secretário-Geral das Relações Exteriores, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães
Assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, professor Marco Aurélio Garcia

(b) “simpatizantes benevolentes”
acadêmicos ditos de esquerda, jornalistas e formadores de opinião
Sempre emprestaram solidariedade às causas do PT, quando não integraram seus quadros, como militantes ou simpatizantes ativos.
Podem também ser chamados de fellow travellers ou de compagnons de route.
Intelectuais “orgânicos” que fazem discursos “gramscianos” para os documentos do partido

(c) “acadêmicos neutros”
Comunidade de pesquisadores e analistas de relações internacionais
Analisam criticamente as grandes linhas da política externa governamental, expõem os meandros e pressupostos da diplomacia oficial, discutem as opções, consideram custos e benefícios das escolhas feitas e praticam métodos eventualmente marcados por um certo formalismo analítico
Mas, a massa de produção ainda não é extraordinária.

(d) “opositores declarados”
Jornalistas profissionais, alguns acadêmicos
Consideram que a atual política externa:
é uma emanação tardia do terceiro-mundismo dos anos 1960-80;
opera uma adesão equivocada a regimes totalmente démodés;
pratica um antiimperialismo infantil.

4. Qual a produção representativa?
(a) “vozes autorizadas”:
Silva, Luis Inácio Lula da. Discurso de posse (2003)
------- . Pronunciamentos de relações exteriores (site MRE)
Amorim, Celso. Discurso de posse (2003)
-- .“Conceitos e estratégias da diplomacia do Governo Lula”, DEP (2004)
------- . “A lição de Cancun”, Política Externa (2003/2004)
Guimarães, Samuel Pinheiro. Discurso de posse (2003)
------- . “Macunaíma, Subdesenvolvimento e Cultura” (2004)
------- . “Reflexões sul-americanas”, Prefácio a Moniz Bandeira, Conflito e integração na América do Sul (2003)
Garcia, Marco Aurélio. Entrevistas à imprensa (2003-2006)

4. Qual a produção representativa?
(b) “simpatizantes benevolentes”:
Batista Jr., Paulo Nogueira. “A Alca e o Brasil”, Estudos Avançados (2003)
Cervo, Amado Luiz. “A política exterior: de Cardoso a Lula”, Revista Brasileira de Política Internacional (2003)
Moniz Bandeira, L. A. As relações perigosas: Brasil-Estados Unidos (de Collor a Lula, 1990-2004) (2004)
------- . “Política Exterior do Brasil: de FHC a Lula”, Espaço Acadêmico (2005)
Vizentini, Paulo. “Brasil: a diplomacia high profile do governo Lula” (2003)
------- . “Avanços da política externa brasileira” (2005)

4. Qual a produção representativa?
(c) “acadêmicos neutros”:
Lima, María Regina Soares de. “A política externa brasileira e os desafios da cooperação Sul-Sul”, RBPI (2005).
-------. “Na trilha de uma política externa afirmativa”, Observatório da Cidadania (2003).
Markwald, Ricardo Andrés, “A Política Externa Comercial do Governo Lula: o caso do Mercosul”, RBCE (2005)
Oliveira, Henrique Altemani. Política Externa Brasileira (2005).
Veiga, Pedro da Motta. “A política comercial do Governo Lula: continuidade e inflexão”, RBCE (2005)

4. Qual a produção representativa?
(d) “opositores declarados”:
Guzzo, José Roberto. “Mercosul: Um bloco que não faz sentido”, Exame (2004).
------- . “Por uma diplomacia de resultados”, Exame (2004).
------- . “EUA: O maior aliado do Brasil”, Exame (2005).
Lafer, Celso. “A política externa e a crise política”, O Estado de São Paulo (2005).
Nogueira, Rui. “Entre Jânio e Maria, a louca”, Primeira Leitura (2003).
Piso, Antonio. “Uma política externa feita de efeitos especiais”, Espaço Acadêmico (2005).
Sardenberg, Carlos Alberto. “As más alianças de Lula”, Exame (2005).

5. O que eles têm a dizer?
(a) “vozes autorizadas”:
Não oferecem propriamente uma interpretação, mas um caminho a seguir;
Justificam suas escolhas com base numa série de legitimações que tem muito a ver com a trajetória política do PT;
Diplomacia partidária? Apenas em parte…
Ativismo e inovação terminológica.

5. O que eles têm a dizer?
(b) “simpatizantes benevolentes”:
Condenação do “neoliberalismo” do ancien régime;
Defesa da “diplomacia do Sul”;
Ênfase na aliança com “parceiros estratégicos”;
Reforço da construção do Mercosul;
Comunidade Sul-Americana de Nações;
Cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU;
Surgimento de um novo paradigma diplomático?

5. O que eles têm a dizer?
(c) “acadêmicos neutros”:
Também ostentam progressismo instintivo, feito de antiimperialismo moderado, nacionalismo sur mesure, uma oposição filosófica à globalização e ao livre-comércio;
Discurso realista enfatiza limitações do Brasil para influenciar decisivamente uma mudança na agenda diplomática do sistema mundial;
Poucas novidades nessa frente…

5. O que eles têm a dizer?
(d) “opositores declarados”:
Não toleram a retórica terceiro-mundista e as alianças “estratégicas” escolhidas;
Acham que o Brasil deveria aceitar a globalização, como vêm fazendo, aliás, a China e a Índia;
Pouca eficácia de suas mensagens para o grande público e a comunidade universitária;
População aprova retórica antiimperialista e anti-americana.

Conclusões?
A política externa não é vista como ideal por nenhum dos grupos:
Esquerda preferiria inflexão ainda mais profunda do estilo e da substância da diplomacia petista;
Direita preconiza o abandono dos mitos que estão ancorados na antiga e na atual política externa;
Existiriam alternativas credíveis à política externa?
Novo consenso depende da economia futura.

Referências bibliográficas:
(a) Celso Amorim: “Conceitos e estratégias da diplomacia do Governo Lula”, DEP (2004);
(b) Moniz Bandeira: “Política Exterior do Brasil: de FHC a Lula”, Espaço Acadêmico (2005);
(c) P. R. Almeida: “Uma política externa engajada: a diplomacia do governo Lula”, RBPI (2004);
(d) Carlos Alberto Sardenberg: “As más alianças de Lula”, Exame (2005).

Textos suplementares e outros materiais de leitura no site do autor:
www.pralmeida.org
http://diplomaticas.blogspot.com
Brasília, 22 de março de 2006.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Grande palestra! Ao melhor estilo diplomático-acadêmico (ou acadêmico-diplomático?). Ultimamente, não se tem visto nem bom estilo diplomático e nem bom estilo acadêmico. Só há aí o esquema? Suspeito que isso possa virar livro...

quarta-feira, março 22, 2006 5:06:00 AM  

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