01 abril 2006

322) Um exchange sobre o destino da humanidade, e o papel da América Latina nessa conversa toda (4)...

(continuação, e final, da série sobre a esquerda latino-americana...)

ES: “Mas ainda temos enormes fragilidades. O Mercosul, por exemplo, avançou pouco”, avaliou. Com isso, segundo o professor, os EUA “vão comendo pelas beiradas” e preparando a volta da Alca.

PRA: Acho que o professor não precisa se preocupar: a Alca não volta mais, pois seria preciso dobrar os três maiores países da América do Sul. Em compensação, como sugerido sutilmente, os EUA vão logrando seus objeetivos por outras vias…

ES: Segundo Sader, é preciso caminhar na direção da moeda única e buscar maior integração na política e em outras áreas, com destaque para as comunicações – hoje dominada pela mídia que se faz porta-voz dos interesses norte-americanos.

PRA: Acho, sinceramente, que o professor não tem a menor idéia das condições e dos requerimentos de uma moeda única na região, do contrário não falaria com tanta ingenuidade sobre um tema tão complexo. Quanto aos demais aspectos, acho que ele tem toda razão: os novos dirigentes da América Latina, já eleitos e com fortes chances nas próximas eleições, parecem ter as mesmas orientações políticas, o que sem dúvida alguma propiciará o “ponto ótimo” da integração política. Se todos tiverem também as mesmas orientações em matéria de mídia e de comunicações, então o continente estará quase que inteiramente unificado, com exceção de algumas ovelhas negras liberais aqui e ali.

ES: Tais avanços não dependem apenas dos governos, entende Sader, mas da interação entre governos, forças políticas e movimentos sociais. Nesse aspecto, criticou o Fórum Social Mundial, que estaria “girando em falso” por resistir à idéia de ação conjunta. E citou o MAS (partido do presidente Evo Morales, da Bolívia) como exemplo vitorioso de ação partidária a partir dos movimento sociais.

PRA: O FSM talvez seja muito “anarquista” para o gosto do professor, pois ele segue refratário à idéia de “pensamentos únicos” e “ações conjuntas”. Sabe-se, também, que o movimento fraturou-se, justamente, entre os mais “organizacionais” e os persistentemente “anarquistas”, ou entre aqueles que pretendiam direcioná-lo no sentido da luta contra o império e a globalização perversa e os que pretendiam aprofundar a discussão em torno das chamadas “vias alternativas”. Mas, ainda há esperança, a partir do MAS boliviano e talvez de alguns outros movimentos similares. Resta ver se a agenda de todos esses governos, forças políticas e movimentos sociais é realmente convergente.

ES: “Não podemos ficar só no enfrentamento. É preciso construir força política”, concluiu.

PRA: Totalmente de acordo, o que me permite concluir, por uma vez, dando meu assentimento a pelo menos um argumento do professor. De fato, os movimentos que se opõem ao neoliberalismo, ao capitalismo global e ao império precisam constituir força política, mas é isso que vem sendo clamado desde muito tempo. Alguma explicação para resultados tão pífios até agora? Aparentemente, mesmo os governos ditos de esquerda não parecem dispostos a romper com o capitalismo global e o neoliberalismo, como parece ser o caso do Brasil, do Uruguai e do Chile, três dos exemplos no rol dos governos de esquerda da região, segundo o professor. Restam a Venezuela, a Argentina e a Bolívia, mais consistentemente anti-neoliberais, na concepção do professor: caberia ver para que direção eles estão efetivamente conduzindo seus países e qual o sucesso, mesmo relativo, de seus experimentos econômicos. O próximo teste, muito aguardado pelas forças ditas progressistas, é o do México: romperá um governo de esquerda com o Nafta e a política econômica até agora aplicada ali? Resposta em pouco tempo…


Minha modesta conclusão é a de que a América Latina está mais confusa do que nunca esteve e que não me parece que aqui se joga o destino da humanidade. Considero esse tipo de afirmação um jogo retórico do professor, mais destinado a encantar platéias já conquistadas do que convencer novas audiências. De resto, trata-se de velho problema das esquerdas latino-americanas, esse ficar rodando em círculos, nas contradições inconciliáveis – como diriam os marxistas dos tempos stalinistas – de suas próprias posições insustentáveis…

Paulo Roberto de Almeida
Brasília,1º de abril de 2006 (que não se perca por isto...)

Final da série!