27 março 2006

301) Acho que já vimos este filme antes...

...ele costuma não dar certo...

(das agências de imprensa, 27 Março 2006)

Chávez propõe tabelar preços de imóveis urbanos

"O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ameaçou tabelar os preços dos imóveis, sobretaxar os não ocupados e expropriar aqueles cujos proprietários não respeitarem o tabelamento na hora de vender, numa ofensiva contra a especulação imobiliária no país. "Se alguém em Caracas tiver cinco apartamentos e se recusar a vender pelo preço tabelado, nós vamos implementar decretos de expropriação e pagaremos ao dono o valor real do apartamento".
Os preços dos imóveis cresceram 35% no ano passado por causa da falta de investimentos na construção. Ontem, centenas de opositores ao presidente saíram em protesto contra o que chamam de "perseguição" das autoridades contra a imprensa."

Este filme aqui também: aparentemente tem gente que pensa que é possível revogar a lei da oferta e da procura na base do decreto governamental...


Argentina
Presidente institui símbolo da 'luta contra privilégios da elite'
Carne se consolida como front político de Kirchner


Paulo Braga de Buenos Aires
Valor Econômico, 27 Março 2006

O preço da carne, que em situações normais é visto como uma consequência do comportamento do mercado, se transformou nas últimas semanas em mais uma das batalhas políticas envolvendo diretamente o presidente argentino, Néstor Kirchner.

Preocupado com o impacto causado pelo aumento do produto, que na Argentina é consumido também pela população pobre, Kirchner tem abordado o problema de maneira ideológica, como uma espécie de defensor do direito de que todos seus cidadãos possam comer carne, contra a ganância de setores que estariam se beneficiando com os aumentos. "Basta de setores privilegiados", exclamou o presidente em discurso em uma localidade da Grande Buenos Aires visitada anteontem por ele e pela presidente do Chile, Michelle Bachelet. "Se a carne está cara, que baixem o preço para o povo, que o povo me ajude para que todos os argentinos tenham acesso [ao produto]", afirmou.

Na tentativa de deter a alta, no último dia 8, o governo proibiu por 180 dias as exportações de carne. As autoridades também estão fazendo uma campanha, com cartazes espalhados pelas ruas, para que a população boicote o produto. Para dar o exemplo, a carne bovina foi tirada do cardápio servido aos funcionários no refeitório da Casa Rosada, sede do governo.

Na ofensiva, o presidente tem contado com apoio de grupos de desempregados, que já haviam realizado protestos quando Kirchner pediu, em 2005, boicote aos combustíveis da Shell, depois de a empresa aumentar preços.

Semana passada, manifestantes protestaram em frente à sede do mercado de Liniers, principal centro de comercialização de gado vivo do país, e da SRA (Sociedade Rural Argentina), a mais importante entidade do setor agropecuário, sob o slogan "para que as vaquinhas voltem a ser nossas".

Às vésperas do aniversário do golpe de 1976, que fez 30 anos na sexta-feira, um dos dirigentes presentes, Jorge Aragón, disse que "a Sociedade Rural e os militares se dedicaram a derrubar presidentes na Argentina, e com esta denúncia viemos dizer que o povo e o governo não vão mais permitir isso".

"Segundo a percepção popular, os produtores de carne ainda são a faixa mais rica da população", afirmou o historiador José Ignacio Garcia Hamilton, lembrando que os pecuaristas ainda são identificados pela população em geral como a "elite" do país, apesar de a lucratividade obtida hoje com outros produtos, como a soja, ser maior. Mas, para Hamilton, a escolha dos pecuaristas como inimigos serve à retórica populista do presidente. "Esta é uma das razões pelas quais Kirchner se mete nessa briga."

Entre os produtores, o veto às exportações foi recebido com críticas. O argumento é que a medida pode ter um efeito de curto prazo, aumentando a oferta de carne no mercado interno e consequentemente baixando o preço. Mas no médio e longo prazo a tendência é que a menor lucratividade faça com que alguns abandonem a atividade, diminuindo a oferta.

"O governo deve estar mal assessorado, está tomando medidas que vão contra o que há de mais básico para diminuir o preço de um produto, que é aumentar a oferta", disse Marcelo Fielder, secretário de Ação Política da SRA.

"A demanda está muito forte e temos o mesmo estoque de gado de 20 anos atrás", argumenta Pablo Kirjluk, porta-voz do Consórcio de Exportadores de Carne, entidade que reúne 80% das empresas que realizam embarques ao exterior. Segundo ele, o rebanho argentino é hoje de 54 milhões de cabeças para uma população de cerca de 40 milhões de pessoas. O "problema" é que cada argentino come, em média, 61 kg de carne por ano - o brasileiro come 30 kg.

Kirjluk diz que o veto às exportações deve fazer a Argentina perder mercados, e a mensagem enviada aos compradores é que o país não é um provedor confiável. No plano interno, a proibição pode afetar 10 mil trabalhadores que estão empregados em frigoríficos dedicados à exportação, e esse é um dos fatores que levam os empresários do setor a ter esperanças de poder reverter a medida.

O maior frigorífico argentino é o Swift, comprado em 2005 pelo brasileiro Friboi. Um porta-voz da Swift diz que a situação é "preocupante" e disse que a atividade nas fábricas que processam carne cozida e embalada a vácuo é lenta: os funcionários só trabalham para atender pedidos que haviam sido feitos e aprovados antes do veto. O funcionário não quis comentar a situação da empresa em meio a negociações com o governo para derrubar o veto. Mas se a situação não mudar depois de atendidos esses pedidos, a perspectiva é que a atividade cesse totalmente."